Por mais de 35 anos exerci, ininterruptamente, o cargo de
Delegado de Polícia Federal, e me aposentei em 2010 na Classe Especial da
carreira, mas apesar da aposentadoria não estou desocupado. Atualmente auxilio
minha mulher, que é advogada estabelecida e atua em escritório próprio no Rio
de Janeiro desde 1986!
Em consequência
de minha atuação profissional acima mencionada, por óbvio, minha formação
acadêmica é de natureza jurídica! Sou graduado Bacharel em Direito desde 1984 pela
Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro), realizei vários cursos de extensão
em diversas áreas de Direito e, concluí
com êxito, em 2009 um Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na UMSA –
Universidad del Museo Social Argentino na cidade de Buenos Aires na República Argentina.
Ao longo de
minha carreira na Polícia Federal procurei me aperfeiçoar em busca de melhores
resultados na função de autoridade de polícia judiciária da União e realizei
vários cursos de especialização, alguns ministrados em instituições do exterior,
como o curso Crisis Management do FBI (Federal Bureau of Investigation)
dos Estados Unidos da América, que focava em negociações com criminosos em
eventos envolvendo reféns. Situações com reféns são extremamente delicadas
porque há vidas em jogo e o risco de morte está sempre presente. A solução
ideal, que nem sempre é possível, é negociar à exaustão com o tomador de reféns
no sentido de obter sua rendição e o consequente resgate dos reféns sem
qualquer ferimento. Por esse motivo, o “negociador” precisa ser um profissional
altamente preparado para “manipular” e “persuadir” aqueles que mantém os reféns
sob seu poder, o que demanda conhecimentos profundos sobre emoções, sentimentos
e os mecanismos através dos quais as pessoas tomam decisões.
Acontece que tais conhecimentos também
são úteis e necessários em outras áreas de atuação na segurança pública como em
investigações, por exemplo, onde há necessidade de obter informações de pessoas
que, em geral, não querem colaborar (suspeitos de crimes), e pessoas que estão
dispostas a cooperar (testemunhas), em situações onde o que se busca é a
verdade do que realmente aconteceu em determinado evento, cabendo um destaque
especial para o caso de testemunhas, que muitas vezes, afirmam, a princípio,
não se lembrar de quase nada, ou que viram muito pouco “porque tudo
aconteceu muito rápido”, mas que na verdade, com o emprego de técnicas
adequadas, acabam por fornecer detalhes e informações que sequer se lembravam
de ter visto ou de ter tomado conhecimento.
São
surpreendentes os resultados obtidos com essas testemunhas, quando elas são
colocadas em posições confortáveis e convidadas a fechar os olhos, relaxar e
tentar se lembrar o que aconteceu, e nesse momento, surpreendentemente, as
memórias que se acreditavam perdidas são resgatadas.
É
impressionante a similaridade existente entre o procedimento descrito no
parágrafo anterior com a técnica psicanalítica da associação livre desenvolvida
por Sigmund Freud e, de fato, não se trata apenas de similaridade. Na verdade,
em nossa opinião, o que acontece é que a os estudos e os princípios lançados
por Freud, ao longo de pouco mais de um século, extrapolaram os limites da
psicanálise propriamente dita e começaram a permear diversas áreas de
conhecimento e atividade humana sem que as pessoas sequer se deem conta de que
estão aplicando ensinamentos do famoso neurologista austríaco.
Ocorre a mesma
constatação quando se examina o conteúdo do treinamento policial em técnicas de
interrogatórios de suspeitos e condução de entrevistas de testemunhas. Situações
em que o objetivo é sempre o de colher informações, o que é indispensável no
trabalho de polícia judiciária onde toda a atividade gira em torno da “investigação”,
ou seja, trazer à luz aquilo que está oculto, em muitos casos, detalhes
perdidos na memória de alguém que parecem insignificantes, mas que na verdade
são como peças de um quebra cabeça, que isoladamente nada significam, mas que
junto com outras peças formam um quadro mosaico capaz de esclarecer muita
coisa.
Como nesse tipo
de trabalho é fundamental saber “ler” as pessoas, detectando e interpretando
emoções e sentimentos através de expressões e microexpressões fisionômicas,
linguagem corporal, etc..., é natural que os conhecimentos aplicados sejam
extraídos de estudos e pesquisas envolvendo técnicas de persuasão, programação
neuro linguística e outras áreas correlatas.
O fato é que
todos esses conhecimentos, em maior ou menor grau, acabam sempre revelando sua
derivação de fontes como a psicologia e a psicanálise, não sendo exagero
afirmar que os ensinamentos deixados por Freud estão sempre presentes.
Claro que há
aqueles que parecem ter um talento natural para entrevistar pessoas, interrogar
suspeitos ou dirigir negociações em situações de extrema pressão, mas como
conhecimento nunca é demais, eu, pessoalmente, sempre procurei me aperfeiçoar
por conta própria lendo tudo o que podia sobre as técnicas acima mencionadas,
inclusive, merecendo destaque mencionar, com a leitura do trabalho A
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS, que o próprio Sigmund Freud apontava como obra
basilar da psicanálise.
O fato é que
cheguei a conclusão de que deveria formalizar meus conhecimentos sobre
psicanálise através de um curso regular, e minha conclusão nasceu da
constatação de que a psicanálise não é apenas uma área restrita aqueles que
pretendem clinicar, mas envolve conhecimentos que serão úteis em praticamente
todas as áreas de atividade que envolva relações humanas.
No meu caso em
especial, de alguém com larga experiência em segurança pública, posso afirmar
que o conhecimento de psicanálise pode ser extremamente útil, principalmente na
área específica de investigação, vez que a psicanálise é, mais do que tudo, uma
técnica de investigação como era o entendimento do próprio “pai” da
psicanálise, como se pode entender da frase dita por Freud em 1922:
“chamamos de psicanálise ao trabalho pelo qual levamos à consciência do doente, o psíquico recalcado nele”.