domingo, 13 de agosto de 2023

A PSICANÁLISE É, ACIMA DE TUDO, UM TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO!

Por mais de 35 anos exerci, ininterruptamente, o cargo de Delegado de Polícia Federal, e me aposentei em 2010 na Classe Especial da carreira, mas apesar da aposentadoria não estou desocupado. Atualmente auxilio minha mulher, que é advogada estabelecida e atua em escritório próprio no Rio de Janeiro desde 1986!

        Em consequência de minha atuação profissional acima mencionada, por óbvio, minha formação acadêmica é de natureza jurídica! Sou graduado Bacharel em Direito desde 1984 pela Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro), realizei vários cursos de extensão em diversas áreas de Direito e,  concluí com êxito, em 2009 um Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na UMSA – Universidad del Museo Social Argentino na cidade de Buenos Aires na República Argentina.

        Ao longo de minha carreira na Polícia Federal procurei me aperfeiçoar em busca de melhores resultados na função de autoridade de polícia judiciária da União e realizei vários cursos de especialização, alguns ministrados em instituições do exterior, como o curso Crisis Management do FBI (Federal Bureau of Investigation) dos Estados Unidos da América, que focava em negociações com criminosos em eventos envolvendo reféns. Situações com reféns são extremamente delicadas porque há vidas em jogo e o risco de morte está sempre presente. A solução ideal, que nem sempre é possível, é negociar à exaustão com o tomador de reféns no sentido de obter sua rendição e o consequente resgate dos reféns sem qualquer ferimento. Por esse motivo, o “negociador” precisa ser um profissional altamente preparado para “manipular” e “persuadir” aqueles que mantém os reféns sob seu poder, o que demanda conhecimentos profundos sobre emoções, sentimentos e os mecanismos através dos quais as pessoas tomam decisões.

        Acontece que tais conhecimentos também são úteis e necessários em outras áreas de atuação na segurança pública como em investigações, por exemplo, onde há necessidade de obter informações de pessoas que, em geral, não querem colaborar (suspeitos de crimes), e pessoas que estão dispostas a cooperar (testemunhas), em situações onde o que se busca é a verdade do que realmente aconteceu em determinado evento, cabendo um destaque especial para o caso de testemunhas, que muitas vezes, afirmam, a princípio, não se lembrar de quase nada, ou que viram muito pouco “porque tudo aconteceu muito rápido”, mas que na verdade, com o emprego de técnicas adequadas, acabam por fornecer detalhes e informações que sequer se lembravam de ter visto ou de ter tomado conhecimento.

        São surpreendentes os resultados obtidos com essas testemunhas, quando elas são colocadas em posições confortáveis e convidadas a fechar os olhos, relaxar e tentar se lembrar o que aconteceu, e nesse momento, surpreendentemente, as memórias que se acreditavam perdidas são resgatadas.

        É impressionante a similaridade existente entre o procedimento descrito no parágrafo anterior com a técnica psicanalítica da associação livre desenvolvida por Sigmund Freud e, de fato, não se trata apenas de similaridade. Na verdade, em nossa opinião, o que acontece é que a os estudos e os princípios lançados por Freud, ao longo de pouco mais de um século, extrapolaram os limites da psicanálise propriamente dita e começaram a permear diversas áreas de conhecimento e atividade humana sem que as pessoas sequer se deem conta de que estão aplicando ensinamentos do famoso neurologista austríaco.

        Ocorre a mesma constatação quando se examina o conteúdo do treinamento policial em técnicas de interrogatórios de suspeitos e condução de entrevistas de testemunhas. Situações em que o objetivo é sempre o de colher informações, o que é indispensável no trabalho de polícia judiciária onde toda a atividade gira em torno da “investigação”, ou seja, trazer à luz aquilo que está oculto, em muitos casos, detalhes perdidos na memória de alguém que parecem insignificantes, mas que na verdade são como peças de um quebra cabeça, que isoladamente nada significam, mas que junto com outras peças formam um quadro mosaico capaz de esclarecer muita coisa.

        Como nesse tipo de trabalho é fundamental saber “ler” as pessoas, detectando e interpretando emoções e sentimentos através de expressões e microexpressões fisionômicas, linguagem corporal, etc..., é natural que os conhecimentos aplicados sejam extraídos de estudos e pesquisas envolvendo técnicas de persuasão, programação neuro linguística e outras áreas correlatas.

        O fato é que todos esses conhecimentos, em maior ou menor grau, acabam sempre revelando sua derivação de fontes como a psicologia e a psicanálise, não sendo exagero afirmar que os ensinamentos deixados por Freud estão sempre presentes.

        Claro que há aqueles que parecem ter um talento natural para entrevistar pessoas, interrogar suspeitos ou dirigir negociações em situações de extrema pressão, mas como conhecimento nunca é demais, eu, pessoalmente, sempre procurei me aperfeiçoar por conta própria lendo tudo o que podia sobre as técnicas acima mencionadas, inclusive, merecendo destaque mencionar, com a leitura do trabalho A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS, que o próprio Sigmund Freud apontava como obra basilar da psicanálise.

        O fato é que cheguei a conclusão de que deveria formalizar meus conhecimentos sobre psicanálise através de um curso regular, e minha conclusão nasceu da constatação de que a psicanálise não é apenas uma área restrita aqueles que pretendem clinicar, mas envolve conhecimentos que serão úteis em praticamente todas as áreas de atividade que envolva relações humanas.

        No meu caso em especial, de alguém com larga experiência em segurança pública, posso afirmar que o conhecimento de psicanálise pode ser extremamente útil, principalmente na área específica de investigação, vez que a psicanálise é, mais do que tudo, uma técnica de investigação como era o entendimento do próprio “pai” da psicanálise, como se pode entender da frase dita por Freud em 1922:

“chamamos de psicanálise ao trabalho pelo qual levamos à consciência do doente, o psíquico recalcado nele”.