O texto abaixo transcrito, foi publicado no blog da Segurança Pública do jornal O DIA, no último dia primeiro de abril.
Para visitar o citado blog, basta clicar no link do título deste post:
MATAR OU PRENDER?
No último sábado, dia 30 de março, a Polícia Federal apreendeu 400 quilos de cocaína em uma camionete, na cidade de Itatiba a 70 quilômetros da cidade de São Paulo.
No momento da abordagem policial, o motorista da camionete tentou fugir, trocando tiros com os policiais federais, mas acabou preso sem qualquer ferimento.
Ele estava armado com uma arma curta e um fuzil de uso exclusivo das forças armadas.
Outros três indivíduos da quadrilha foram presos.
As investigações consumiram cerca de seis meses.
Nos últimos anos a Polícia Federal tem freqüentado com assiduidade o noticiário nacional com grandes operações policiais de repercussão.
Por força de suas atribuições constitucionais, as ações da Polícia Federal têm alcançado, principalmente, funcionários públicos corruptos, fraudes em licitações, desvios de dinheiro público de diversas modalidades, crimes de "colarinho branco", uso criminoso da internet, pedofilia, tráfico de pessoas, et coetera...
Em geral, são ações policiais contra criminosos que não usam armas de fogo e violência como prática instrumental sistemática em suas ações delituosas, mas a polícia federal também tem agido contra traficantes armados e outros tipos de criminosos igualmente violentos e perigosos, como assaltantes de bancos, assassinos de aluguel e seqüestradores.
Infelizmente têm ocorrido perdas de vidas de policiais federais e de criminosos em confrontos armados que o planejamento minucioso das operações não conseguiu evitar.
Entretanto, comparadas tais perdas em ações da polícia federal com números de outras instituições policiais brasileiras, verifica-se que os níveis de uso letal da força policial são extremamente desproporcionais.
Se o número de óbitos em ações policiais federais se compara ao verificado em estatísticas policiais do chamado primeiro mundo, em algumas polícias estaduais brasileiras tais cifras atingem proporções só compreensíveis e cabíveis em áreas conflagradas do mundo.
São números de mortes típicos de uma guerra!
Em números absolutos a polícia carioca mata e morre, pelo menos, quatro vezes mais do que a polícia paulista.
Proporcionalmente falando, tal diferença se torna ainda mais assustadora porque a população e o número de policiais de São Paulo são muito maiores do que no Estado do Rio de Janeiro.
Estatísticas mostram que São Paulo é a unidade da federação que mais prende criminosos, enquanto que o Rio de Janeiro é a unidade federativa onde mais morrem criminosos e policiais em confrontos armados!
Há alguma coisa errada e alguém terá que descobrir qual é o problema e qual é a solução!
Estudiosos da questão da segurança pública do meio acadêmico, mais qualificados do que o autor deste texto, afirmam que há no Rio de Janeiro, uma cultura baseada na política do extermínio de criminosos como solução para o grave problema da segurança pública.
Não é um defeito exclusivo da atual administração da segurança pública do Rio de Janeiro.
É uma política equivocada que vem sendo repetida há pelo menos uns vinte anos, ou mais, por sucessivos governos estaduais das mais distintas vertentes ideológicas.
O fato é que se o extermínio de bandidos fosse solução para o problema da criminalidade no Rio de Janeiro, já viveríamos, hoje, no melhor dos mundos, pois a pilha de corpos de supostos criminosos, acumulada ao longo de todos esses anos, é simplesmente impressionante!
Ao contrário, o que ocorre é que a política do uso indiscriminado da força policial letal só tem gerado uma interminável espiral ascendente de violência que causa vítimas em ambos os lados, policiais e criminosos, e, no fogo cruzado, cidadãos inocentes.
Talvez seja por esse motivo que o fenômeno das "balas perdidas" já se tornou uma "tradição" cotidiana do Rio de Janeiro, coisa que não existe, pelo menos nas mesmas proporções, em outros pontos do Brasil!
Em polícias do mundo civilizado, a prioridade é a preservação de vidas, seja de quem for, e o uso da força letal é o último recurso!
Quando os bandidos sabem, acreditam ou imaginam, que a prioridade policial é matá-los mesmo que se rendam, optam por não se entregar e por tentar fugir a todo custo, sem qualquer preocupação com eventuais vítimas inocentes do tiroteio!
A missão da polícia não é matar bandidos, é prendê-los e submetê-los ao judiciário criminal!
3 comentários:
Li e também visitei o Blog da Segurança (O Dia Online).
Parabéns, Delegado Antonio Rayol!
Seus estudos e trabalhos estão produzindo bons frutos e resultados, não somente ótimos textos. Sou convicto que PF tem tantos outros profissionais do seu naipe, Delegado Antonio Rayol. A PF é uma importante referência a ser defendida, preservada, mantida sempre em evolução humana e material, porque só assim a Sociedade poderá jogar e ganhar todas contra o crime organizado (e desorganizado, também!).
Resido no interior do Estado de São Paulo, em uma região metropolitana com participação significativa no PIB de São Paulo e até mesmo no PIB do Brasil. Sofremos também com o problema da violência, choramos as mortes - mas, sentimos que estamos ainda em condições bem mais seguras que no Rio de Janeiro - capital, principalmente. Há que se aprender com o atual governo paulista e a política de Segurança em curso e, principalmente, recursos liberados à Segurança: veículos, armamentos, sistemas de comunicação e informática, instalações, formação e retreinamento de policiais e outros profissionais de apoio. O Estado de São Paulo é onde mais prisões são efetuadas. Tomara que continue assim e o governo estadual não caia em mãos irresponsáveis, dessas que afagam seus aloprados e criminosos um pouco antes ou logo em seguida de apanhados em flagrante...
parabéns, dr. Rayol pelo belíssimo artigo. Logo que puder farei um link no meu blog.
Grande abraço
Jorge Antonio Barros,
Repórter de Crime
Muito certo ,mas fica a minha pergunta : o que falta para essa Policia mudar ? para matar menos ?
Bom dia :)
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