sexta-feira, 3 de novembro de 2006

O alto preço da INCOMPETÊNCIA!

O Brasil viveu uma ditadura militar entre 1964 e 1985.
Como convém a qualquer regime autoritário, a máquina administrativa pública foi devidamente “aparelhada” para melhor controle do país.
Em conseqüência, era comum que reitorias de universidades públicas, diretorias de bancos, empresas estatais e secretarias de governos estaduais (entre outros cargos de menor importância), fossem ocupados por militares e simpatizantes!
O tal regime acabou, mas alguns resíduos permaneceram.
No Brasil a administração da aviação civil e o controle do tráfego aéreo de cargas e passageiros é mantido sob administração militar e não sabemos em que outro país do mundo isso ocorre dessa forma, suspeitamos que o Brasil deve estar, no mínimo, em escassa companhia .
Também é difícil entender o que é que os militares têm a ver com o transporte comercial de passageiros civis.
No Brasil existem 2.759 controladores de tráfego aéreo e destes, apenas 571 são civis.
Os 2.188 controladores de tráfego aéreo não-civis, são militares de baixa patente, cabos e sargentos, mal remunerados como, aliás, são injustamente mal remunerados todos os militares do Brasil.
A responsabilidade de sua função, ligada à segurança de milhares de vidas de passageiros, não é levada em consideração e um sargento controlador de vôo ganha o mesmo que um sargento que toca tuba em uma banda militar!
Nada contra os militares que tocam na banda do quartel!
Como tais controladores de vôo são militares, estão sujeitos a um rígido código disciplinar, não podem se organizar em sindicatos, fazer greves ou veicular reivindicações, nem mesmo reclamar ou denunciar a sobrecarga e as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos.
Ao longo do tempo, todos esses problemas foram se transformando em uma “panela de pressão” e, como tudo tem um limite, a explosão era só uma questão de tempo!
A tragédia decorrente da colisão entre um boeing da GOL e um jato Legacy de Embraer, com 154 mortos foi a gota d’água que faltava!
Um jornalista norte americano que se encontrava a bordo do Legacy publicou um artigo dizendo que a culpa pelo acidente foi do controle de vôo brasileiro.
Vozes patrióticas se ergueram em protesto naquele momento e hoje se sabe que a denúncia parece ser verdadeira!
O controle de vôo de São José dos Campos teria orientado os pilotos do jato Legacy a voar até Manaus a 37.000 pés de altura, quando o correto teria sido baixar a 36.000 pés após Brasília.
Hoje se sabe que o intervalo entre vôos no mesmo sentido, segundo normas internacionais de aviação, deve ser de no mínimo de 16 minutos, ao passo de que aqui no Brasil chegava a ser de 11 ou até 8 minutos.
Também se sabe hoje, segundo as mesmas normas internacionais, que um controlador de vôo não deve se ocupar de mais de 14 aeronaves, quando aqui no Brasil, um controlador chegava a cuidar de até 20 aeronaves.
Também se sabe hoje, que um documento de 2003 alertava para a iminente crise no setor de controle de vôos, documento que foi solenemente ignorado.
Havia verba federal destinada para o setor, mas não foi liberada por causa da necessidade de “fazer caixa”!
É o tal do superavit primário!
Finalmente os controladores de vôo decidiram realizar uma operação padrão, cumprindo estritamente o que dizem as normas internacionais de aviação, resultando nos atrasos e tumultos em aeroportos que a mídia vem noticiando ultimamente.
O ministro da defesa, responsável pela área militar e, consequentemente, pelo controle do tráfego aéreo, diante da monumental crise, repetindo o que parece ser um bordão padrão da atual administração disse que “não sabia de nada”!
Agora começam a surgir as soluções que deviam ter sido apresentadas antes que o problema assumisse as atuais dimensões.
O setor vai ser desmilitarizado, vai haver um plano de cargos e salários compatível com a responsabilidade da função e cogita-se a contratação emergencial de controladores de vôos.
Quanto tempo vai levar isso?
Um controlador de vôo é um profissional altamente treinado e leva tempo para preparar alguém para essa função.
Não é como contratar um marceneiro sem concurso!
Pode parecer implicância do VOX LIBRE, mas não é!
Esse é o preço que se paga quando se tem uma administração incompetente.
Não há planejamento nem gestão integrada.
É preciso que as crises ocorram para que as soluções apareçam em caráter emergencial e por isso mesmo, imperfeitas, pois nada mais são do que remendos.
O que resta de tudo isso é o sentimento de que as 154 mortes no acidente do boeing da GOL talvez tivessem sido evitadas se aquele documento de 2003 não houvesse sido ignorado.
As 154 vítimas fatais do tal acidente poderiam hoje estar vivas se os problemas do controle do tráfego aéreo brasileiro houvessem sido equacionados há mais tempo!
A incompetência às vezes, cobra um preço muito alto e o pior é que os responsáveis ficam impunes!

5 comentários:

Anônimo disse...

Dr.

O Sr. anda pensando muito no Apedeuta Etílico !

O cotrole de voo é de São José dos Campos, e não São Bernando do
Campo.

Um abração !

Anônimo disse...

Nâo seria o caso, dos parentes das vitimas da GOL, responsabilizarem o chefe governamental CRIMINALMENTE, pelas mortes ?

Afinal, se ele tivesse cumprido o pepel de estadista, talvez tudo fosse evitado.

Antonio Rayol disse...

Obrigado aos amigos NEWTON e PENTEFINO pela colaboração, vou CORRIGIR os textos.

Anônimo disse...

Então, a pergunta é ! Quem deveria ter liberado a verba na época ? Não é culposo ? É mais ou menos o que acontece na saúde, morre muita gente por falta de recursos, mas o dinheiro da cpmf nunca chegou a um hospital.

Alice disse...

Depois que acontecem ,que ficamos sabendo que verbas não foram liberadas ...então quem cabe fiscalizar ? no caso da saúde estamos cansados de saber , tbm não entendo o Minsitério Público não deveria nos defender ? obrigar a repassarem o din da cpmf ...tem horas que da desanimo ,é como estar órfão ...