segunda-feira, 16 de maio de 2011

EROSTRATUS e a tragédia de Realengo

Por volta de 20 de julho do ano 356 a.C., um indivíduo chamado Erostratus ateou fogo ao templo de Ártemis em Éfeso, provocando um incêndio que arrasou completamente a construção, considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo. Preso e interrogado, Erostratus confessou que seu único propósito era tornar-se famoso através da destruição de algo grandioso. As autoridades de Éfeso executaram Erostratus e determinaram que a pena de morte seria igualmente aplicada a quem quer que divulgasse o fato ou mencionasse o nome de seu autor. Apesar disso, até os dias de hoje a história de Erostratus é conhecida!
Em 07 de abril de 2011, no Rio de Janeiro, outro indivíduo extremamente perturbado invadiu uma escola no bairro de Realengo e matou 12 crianças - ferindo outras tantas -, em uma tragédia sem precedentes no Brasil!
Vinte e quatro séculos separam os dois acontecimentos, mas é possível estabelecer alguns paralelos: Erostratus queria tornar-se famoso e, tudo indica que era esse também o propósito do monstro de Realengo, o que pode se deduzir do fato de que ele destruiu tudo o que havia em sua residência, antes de partir para o massacre, exceto os muitos vídeos que deixou gravados com confusos depoimentos em que pretendeu justificar sua conduta!
Erostratus usou fogo para realizar seu propósito e provavelmente teria explodido o templo, se a pólvora já tivesse sido inventada; já o demente de Realengo usou armas de fogo para assassinar suas vítimas e, certamente, na eventual falta delas, teria utilizado outros instrumentos para cometer seus crimes!
Tem sido assim ao longo da história da Humanidade: uma vez tomada a decisão, o impulso de construir e realizar (ou o de destruir e matar), se concretiza ou é tentado, de acordo com os meios disponíveis em cada momento histórico.
Armas de fogo, como quaisquer outros instrumentos, são amorais, e é a vontade humana que vai determinar se serão usadas para o bem ou para o mal. Se foi uma arma de fogo nas mãos de um desequilibrado que causou o massacre de Realengo, foi também outra arma de fogo nas mãos de um homem de bem (um policial), que evitou que a tragédia fosse ainda maior!
Armas não matam nem salvam ninguém... são pessoas que fazem uma coisa ou outra!
A tragédia de Realengo colocou novamente em debate a possibilidade de proibição total do comércio legal de armas de fogo no Brasil. Trata-se de uma idéia equivocada, que só encontra terreno fértil na sociedade em razão do desespero e do trauma causados pela tragédia de Realengo. Criminosos não se preocupam em cumprir as leis e conseguem as armas de que precisam no mercado negro. Deveríamos nos preocupar em descobrir por que as autoridades encarregadas não conseguem fazer cumprir as leis que já temos contra o comércio ilegal e o contrabando de armas de fogo.Se as pessoas de bem deste país forem impedidas de adquirir legalmente uma arma de fogo, a única certeza que teremos é que só os bandidos estarão armados!