quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Ainda falando sobre as "milícias"!

Ainda repercutindo o nosso post anterior, sobre as "milícias" que andam expulsando traficantes de comunidades carentes, algumas observações suplementares são necessárias:
A polícia militar do Rio de Janeiro possui o GPAE (grupo de policiamento em áreas especiais), que como o próprio nome já diz, se propõe a policiar algumas favelas.
Em outras favelas, existem instalações policiais permanentes, conhecidas como DPO's - destacamentos de policiamento ostensivo.
Há ainda os casos em que algumas favelas sofrem temporariamente "ocupações" feitas pela polícia militar em razão de algum crime de repercussão.
Em qualquer das três alternativas acima enumeradas, o tráfico de drogas não desaparece nem cessa, mas encontra um meio de "conviver" com a presença policial.
É uma coisa do tipo, o policial faz de conta que policia e o traficante faz de conta que não trafica!
O interessante é que onde as "milícias" se instalam, o tráfico e os traficantes de drogas realmente são expulsos.
Qual é o segredo das "milícias"?
Por que a polícia não consegue fazer o que as "milícias" fazem, se já se sabe que ambas são compostas pelo mesmo elemento humano?
Já há gente pregando a institucionalização das "milícias", vez que elas parecem ser bem sucedidas onde a polícia e o Estado falham.
Reproduzimos abaixo, interessante entrevista da Inspetora da polícia civil carioca MARINA MAGESSI (nossa amiga), eleita deputada federal, que se tornou conhecida por ser responsável por várias ações de êxito contra a criminalidade.
“Hoje o crime está sem lógica”
Policial que se elegeu deputada defende milícias armadas nos bairros, diz que o tráfico faliu e teme crime desorganizado
Por Aziz Filho
ISTOÉ – Por que trocar a delegacia pelo Congresso?
Marina Maggessi – O que eu gostava – combater o que chamavam de crime organizado – já não dá mais para fazer.
O tráfico foi acabando e dando lugar a esses moleques miseráveis que nunca foram à escola, não têm dentes e são extremamente viciados.
É o crime desorganizado.
Meu trabalho perdeu a essência e o que chegava para mim era essa molecada descalça.
A função de um deputado federal não é só legislar, é também fiscalizar o Executivo.
Vou defender uma Lei Orgânica da Polícia Civil para o Brasil todo, que tire a ingerência política e faça com que a polícia seja escolhida com critérios técnicos, nos moldes do Ministério Público, com autonomia, gestão financeira própria e blindagem a indicações políticas.
ISTOÉ – A corrupção da polícia não seria um perigo?
Marina – O que você entende por corrupção?
Se for a do guarda que pega R$ 10 para não dar uma multa de R$ 100, então ela é endêmica, está na sociedade.
ISTOÉ – E recolher dinheiro do tráfico?
Marina – O tráfico não tem mais dinheiro, faliu.
Hoje temos as favelas da Rocinha e Mangueira como distribuidoras.
Quem as sustenta?
A classe média alta.
A Rocinha só tem o dinheiro que tem em razão de sua vizinhança.
ISTOÉ – O que aconteceu? As pessoas pararam de cheirar cocaína?
Marina – Nos anos 80, a cocaína entrou no Rio, mas só nas camadas mais altas, artistas e intelectuais.
Enquanto ficou nessa esfera, estava tudo bom.
A desgraça foi quando chegou na miséria.
O pobre se viciou e viu nisso um grande filão de dinheiro.
Existiam os barões do pó.
O Uê, o Robertinho de Lucas etc...não eram moleques, eram homens com certo grau de inteligência, apesar da pouca escolaridade.
O Uê, quando foi preso, tinha três aviões na fronteira.
Naqueles anos de 1996 e 1997 nós prendemos todo mundo: o Uê, em Fortaleza, o Marcinho VP, em Porto Alegre, o Robertinho de Lucas, no Recife.
E aí foi uma sucessão.
Não matamos ninguém e prendemos os cabeças.
ISTOÉ – Os chefões não foram substituídos?
Marina – Eles se dilaceraram.
Antes só existia o Comando Vermelho e quem destruiu essa harmonia foi o Uê, quando matou o Orlando Jogador, seu concorrente.
O Uê não tinha medidas.
Além de inteligente, era um homem bonito e negociava com os cartéis.
A identidade dele era de engenheiro paulista.
Foi preso em um hotel cinco estrelas em Fortaleza, curtindo a vida.
Outra grande burrice do CV foi quando o Elias Maluco matou Tim Lopes e a mídia descobriu que tinha algo horrível do outro lado do túnel.
Só na Vila Cruzeiro eram 200 ossadas não identificadas.
Aí a polícia ganhou voz para dizer: toda cocaína cheirada no Rio tem sangue no meio, não existe cocaína limpa.
ISTOÉ – A sociedade entendeu?
Marina – Esse discurso fez a diferença.
Do lado de cá começa a cocaína delivery e de lá a quebradeira.
Começam a fazer crack, que os antigos chefões nunca deixaram.
Além de matar rápido e ser uma droga barata, sem retorno financeiro, deixa o usuário sem controle, um monstro.
A garotada que toma conta das bocas hoje, sem nenhum tino comercial e com apenas umas 20 palavras no vocabulário, começou a usar essa desgraça.
Eles não têm nenhuma instituição atrás deles: escola, família, igreja, Estado, nada.
Só pertencem à facção.
Parece algo menor, mais fácil de combater.
Mas é muito mais difícil porque não tem lógica.
Prejudica todo trabalho de inteligência.
ISTOÉ – O que mudou entre os usuários?
Marina – A zona sul passou a usar ecstasy, que não tem nada a ver com favela.
É uma anfetamina com efeito parecido ao da cocaína: dá sensação de poder, liberdade, um poderoso estimulante para quem pode pagar R$ 50 por um comprimido.
Para o pessoalzinho da zona sul fica na cabeça que é uma droga limpa porque vem da Europa, não está na favela.
O pai e a mãe não enchem o saco e dizem:
“Meu filho não toma álcool, só bebe água e dança a noite toda.”
É fácil de esconder em casa, de carregar, só um comprimido ou diluído no colírio.
Já a garotada do subúrbio está cada vez mais violenta e com a cara enfiada no crack.
Vai buscar dinheiro onde existe, na zona sul."

Um comentário:

Anônimo disse...

Mata rápido? Então deixa...