quarta-feira, 29 de maio de 2019

O ÔNIBUS DA CADEIA



        Como profissional da área de segurança pública sempre procurei estudar o assunto, principalmente examinando a forma como funcionam as polícias de outros países e gosto especialmente da organização das instituições policiais nos Estados Unidos da América porque entendo que é o sistema que poderia ser implantado no Brasil sem grandes traumas (os pequenos traumas serão inevitáveis), e, por esse motivo, em todas as vezes em que visitei aquele país procurei manter contato com policiais locais para aprender mais sobre o funcionamento do sistema deles.
        Em uma dessas oportunidades conheci um policial que trabalhava na temida e respeitada IAD da polícia de Miami (a divisão de assuntos internos é a corregedoria deles), e em nossa conversa ele me disse que o índice de desvios de conduta dos policiais americanos era muito baixo porque as punições eram severas e a possibilidade de perder o emprego estava sempre presente. Fiquei sabendo que a corregedoria da polícia prestava especial atenção nas pessoas com quem os policiais mantinham relações de amizade e para ilustrar a importância do tema ele me contou uma história que até hoje não sei se aconteceu mesmo ou se é só uma fábula, mas girava em torno de um presídio nas cercanias da pequena cidade de Redfield. Uma vez por semana o ônibus da cadeia que ligava a capital ao presídio passava pela cidade na ida e na volta levando presos que iam cumprir penas ou trazendo de volta aqueles que seriam libertados. Quase sempre o ônibus fazia uma parada rápida numa lanchonete na beira da estrada na entrada de Redfield onde alguns guardas do presídio desembarcavam, pois a maioria deles morava em Redfield. No imaginário dos moradores da cidade o ônibus da cadeia só era usado por criminosos ou pelos guardas penitenciários até que um dia algo diferente aconteceu: um promotor de vendas itinerante que visitava regularmente os lojistas de Redfield desembarcou do ônibus da cadeia na entrada da cidade. Os moradores de Redfield não sabiam, mas o carro do vendedor havia enguiçado na estrada e alguns guardas que o conheciam ofereceram carona no ônibus! Para encurtar a história pode-se dizer que o tal vendedor teve muito trabalho para explicar que não havia sido preso porque as pessoas da cidade que já o conheciam passaram a tratá-lo de forma diferente, para não dizer de forma francamente hostil!
        A moral da história é que não se deve aceitar carona no ônibus da cadeia! Isso serve para todos os aspectos da vida, principalmente no meio político onde alguns, na busca ansiosa pelo poder, fazem alianças com pessoas que deviam estar no “ônibus da cadeia”.
        Depois não entendem porque perdem eleitores!

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